sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Atendimento psicológico online

 Compartilho aqui trechos da carta do meu projeto "Correio Terapêutico", onde há relatos de pessoas que estão sendo atendidas em psicoterapia online:

Belo Horizonte, sob os ventos de agosto de 2020.

Prezada(o),
Espero que esta carta te encontre bem.
Os desafios da pandemia continuam nos cercando e nos exigem novas habilidades, capacidade de nos adaptarmos e criação de novas formas de lidarmos com o cotidiano. As crises (como esta acarretada pela pandemia) podem ser entendidas como um chamado para mudanças e os que são capazes de se abrirem para o novo tendem a ser mais bem sucedidos no seu enfrentamento. São nas crises que as inovações tendem a surgir com mais força.
Na prática da psicoterapia, também inovamos. Se antes o atendimento presencial era o que mais ocorria, hoje, para preservarmos o distanciamento social recomendado para o período da pandemia, o atendimento online tornou-se rotina e tal prática passou a ser mais facultada pelo Conselho Federal de Psicologia. (...) Por vezes, a pessoa não tem os recursos mínimos para o atendimento online (um local onde possa estar em privacidade e falar sem interrupções, um aparelho de celular ou computador com câmera e com acesso a internet que permita videochamadas) e por isso não agendaram atendimentos conosco. No entanto, percebo que muitas pessoas não desejam nem fazer uma sessão experimental de psicoterapia na modalidade online não por falta das condições que aqui citei, mas por uma resistência ao atendimento psicológico pela internet, preferindo aguardar o “retorno ao normal”. E, muitas vezes, esta espera poderia ser melhor vivida se a pessoa já estivesse num trabalho terapêutico e aprimorando seu autoconhecimento. Sendo assim, com ajuda de pacientes que colaboraram voluntária e zelosamente com seus relatos (e que não serão identificados), partilho, aqui, alguns depoimentos de quem se encontra em processo de psicoterapia online para retratarem os benefícios que esta modalidade de trabalho tem e quem sabe, assim, sensibilizar os que estão resistentes a tal procedimento:
“Fazer terapia tem me ajudado com muitas questões das quais tenho dificuldade em resolver e até mesmo de enxergar. Como estamos vivendo um período que atendimentos presenciais devem ser evitados, decidi começar com o online e não esperar. Me surpreendi com as sessões, com a dedicação da psicóloga e de não ter sentido diferença do presencial para o online. Graças a tecnologia estou podendo dar continuidade a terapia que me faz bem e me ajuda!”
 “Hoje vivemos uma modalidade estranha de nos comunicarmos, a qual me causa espanto, principalmente quando se ouve falar em terapia a distancia. Eu fui relutante, não aceitei, até perceber que meu equilíbrio emocional estava pedindo ajuda e eu precisava agir rápido. Foi aí que percebi que solicitar uma agenda para terapia, mesmo em videoconferência, era o passo principal para meu retorno ao equilíbrio. Só assim para eu provar para mim mesmo como é importante lapidar o preconceito e voltar para a vida com a leveza que a psicoterapia pode oferecer, ainda que em videoconferência.”
“Gostaria de lhe dizer que a terapia tem me feito muito bem, pois através dela estou me conhecendo melhor e entendendo as minhas dificuldades e necessidades. Para mim foi muito difícil aceitar que precisava de ajuda, pois sempre achei que sozinho resolveria minhas tristezas, angústias e incertezas. Hoje, tendo essa oportunidade, me sinto muito à vontade e confiante pelo respeito, carinho e compreensão da profissional, além de receber ferramentas que me são oferecidas e que contribuem mais ainda para meu ponto de equilíbrio. A terapia online é muito importante, tendo em vista que em um momento difícil de pandemia, dispomos de  oportunidade para buscar ajuda e conhecimento de forma tão eficiente e ágil, não perdendo a proximidade, clareza e calor humano, tão importantes nestas situações.”
 
“Há mais de 14 anos na instituição e após ser reprovado no exame psicotécnico (tiro), fui marcar o reteste e conversei com a psicóloga, que me orientou sobre o acompanhamento psicológico para os guardas. Aceitei a ajuda e comecei, mas veio a pandemia e nos tirou o chão. A pronta resposta foi dada com o início das sessões online (virtual), onde continuo a me lapidar. O acompanhamento aborda todos os assuntos e está sendo uma grande ajuda nesses tempos. O homem pode perder tudo, menos a cabeça.Vamos nos cuidar!”
 
Esta carta foi escrita a muitas mãos e agradeço aos que colaboraram com seus relatos.

Deixo, por fim, a pergunta (para pensarmos não só em momentos de crise e para além do que aqui foi tratado): quando foi a última vez que fez algo pela primeira vez?
Inovar é preciso. Se quiser compartilhar suas reflexões, basta me escrever.
Com todo apreço, mesmo a distância,
Luciane Couto
                                                                                 
PS: Deixo hoje alguns versos do poema “Tempo”, de Carlos Drummond de Andrade:
“Aí entra o milagre da renovação
e tudo começa outra vez, com outro número
e outra vontade de acreditar
que daqui pra diante tudo vai ser diferente”.

sexta-feira, 29 de maio de 2020

Correio Terapêutico - quarta carta

Belo Horizonte, numa expressiva manhã de maio de 2020.

Prezada(o),

Como você tem estado?

Hoje começo falando de outra etapa da respiração: expirar. Lembro que nas últimas duas cartas, falei sobre a importância de respirarmos lenta e profundamente como um exercício para relaxamento. Gostaria de ressaltar agora como expirar de uma forma melhor: após inspirar o ar vagarosamente pelo nariz e levá-lo para o diafragma, buscar soltar o ar pela boca, gastando mais tempo ao soltar o ar do que gastou para inspirá-lo. Pode, ainda, imaginar que a cada expiração você vai colocando para fora, além do ar, também as tensões, as preocupações, os pesos no corpo... Enfim, ao focar também no expirar, terá mais um complemento para um exercício respiratório com mais consciência.

Dentro dessa linha do “expirar”, julgo ser importante também refletirmos sobre como nos expressamos, como colocamos “para fora” o que pensamos e sentimos. Já sabemos que, na psicoterapia, incentivamos pessoas a tomarem consciência de suas emoções e sentimentos e a expressá-los devidamente, dentro e fora do consultório. Não raramente, percebo que muitos dos que atendo reconhecem que não se expressam de forma saudável: por exemplo, uns guardam tudo para si, resultando em adoecimentos inclusive físicos (tais como úlceras gástricas agravadas pela ansiedade; alergias de pele sem causa física detectada por exames; dores de cabeça provocadas por nervosismo...), já outros se colocam de forma violenta, seja no falar ou no agir.

Um conceito que julgo importante para afinarmos a forma de nos expressar é o de “assertividade”, que significa saber se colocar para o outro de forma firme e direta, mas não de forma violenta ou omissa. Ser pacífico sem ser passivo. Para sermos mais assertivos, precisamos, dentre outras características, nos conhecermos melhor e termos mais autoconfiança para nos posicionarmos e sermos empáticos (colocarmo-nos “no lugar do outro”). Resumindo, ser assertivo é saber o que dizer e para quem dizer, no momento e local mais propícios e da forma mais adequada.. Há vários livros que tratam sobre assertividade, para quem quiser aprofundar no tema. E também se pode aprimorar num processo psicoterapêutico a capacidade de ser assertivo.

Por último, friso que também podemos usar técnicas artísticas para nos expressarmos. Já se conhece os efeitos terapêuticos de atividades como pintar, bordar, esculpir, cantar, dançar, escrever... A escrita tem sido minha forma artística preferida há tempos para me expressar (através da poesia, contos e crônicas, sobretudo) e me tem trazido muitas dádivas, novas amizades, outros trabalhos, amplos horizontes, além de auxiliar na minha sanidade mental.

Você usa alguma forma de arte para se expressar?

Espero que minhas palavras de hoje possam ter expressado, mais uma vez, meu desejo pelo seu bem-estar. Se tem se expressado através da arte e desejar compartilhar isto e outros assuntos comigo, pode me enviar uma mensagem.

Gentilmente,

Luciane Couto



PS: Partilho aqui um poema meu, feito nesta semana, chamado “Na Despedida” e que pode simbolizar o poder da escrita:

Antes do adeus premente
Já  tinha  um poema
No canto do olho
E logo teria o olhar
Todo marejado de poesia.

Dispensou o lenço
Oferecido após
O derradeiro abraço
E deixou os versos
Escorrerem livremente.

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Correio Terapêutico - terceira carta

Belo Horizonte, numa inspirada manhã de maio de 2020.

Prezada(o),

Como tem estado? E como andam os ares por aí?

Na última carta, escrevi sobre a importância de colocarmos mais consciência em nossa respiração. Hoje gostaria de prosseguir no tema, focando no ato de “inspirar”. De forma concreta, uma sugestão de exercício respiratório voltado para um “inspirar” melhor é: sentar confortavelmente e voltar sua atenção para a própria respiração, desta vez puxando lentamente o ar pelo nariz e buscando enviar o ar não só para o pulmão, mas bem abaixo, para o abdômen (ou seja, sentindo o tórax aumentar de tamanho a cada puxada de ar e também a barriga se distendendo com o ar aspirado) e só depois soltar o ar. Assim, o ar chega ao diafragma, deixando a respiração mais profunda e, de fato, completa. Respirando algumas vezes como descrevi aqui, pode se obter uma sensação de relaxamento.

Agora pergunto: além do ar ao respirar, o que mais tem (te) inspirado? O que a vida te traz ou você busca que nutre seu bem-estar? Tem se inspirado através de livros, filmes, outras formas de arte, natureza, amizades, espiritualidade, mentores? Um dos primeiros livros que li e muito me inspirou foi “Fernão Capelo Gaivota”, de Richard Bach. Reli recentemente esse livro e a história sobre superação de limites continua me soando muito inspiradora.

O que colocamos para “dentro da nossa alma” é importante, pois alimenta nossas ideias e sentimentos. Selecionar, por exemplo, o conteúdo das nossas leituras, reportagens que assistimos e das conversas que sustentamos é recomendado, pois tais conteúdos podem nos fazer bem, mas também podem nos deixar mais ansiosos e tensos. Selecionar com quem nos abrimos e a quem solicitamos conselhos também é fundamental, pois tantas vezes a outra pessoa enfrenta seus dilemas e desafios e não tem condições de nos aconselhar de uma forma  colaborativa. O autoconhecimento (que pode ser aprimorado num processo psicoterapêutico) contribui para delimitarmos o que nos inspira ou o que pode estar contribuindo para o nosso adoecimento.

 E quem você tem inspirado? Muitas vezes, mesmo que não o percebamos, estamos inspirando quem nos cerca, seja um familiar, um amigo, um colega de trabalho... Uma vez, percebi isso graças a um amigo artista, quando fui, pela primeira vez, prestigiar um trabalho artístico dele. Após a apresentação, ele me chamou ao camarim, me abraçou e agradeceu, dizendo que foram conversas que tivemos há anos, quando trabalhamos juntos, uma das coisas que o incentivou a se manter no caminho artístico. Eu não me lembrava de tais conversas e, certamente, não as tive com a consciência do peso que elas teriam na vida do meu amigo. Porém, sou grata por esse retorno que meu amigo me ofertou, que me ajudou a refletir, a partir de então, muito mais sobre o que falo ou escrevo. Felizmente, meu amigo seguiu seu propósito de vida e, assim, ele presenteia a mim e a tantas outras pessoas com suas maravilhosas apresentações artísticas.

Ainda sobre inspirações, lembro com carinho da mãe de uma amiga da época de adolescência, que recebia a mim e a outros vários jovens em sua casa, servindo bolo de cenoura, indicando-nos filmes e livros e nos orientando sobre estratégias para lidarmos com várias angústias que vivíamos da puberdade. Quando me mudei de cidade e, várias vezes, pude viajar e me hospedar na casa de tal amiga, era recebida com tanto zelo por sua mãe que passei sempre a ter essa mulher como referência de como acolher bem. Há alguns anos, pude homenagear a mãe de minha amiga num outro texto, onde eu deixava claras as inspirações que dela recebi – texto que a mulher inspiradora pôde ler antes que falecesse (precocemente, vítima de um câncer).

Que tal dizermos hoje para alguém sobre algo que tal pessoa tenha nos inspirado?

E gostaria de compartilhar comigo suas inspirações? Se sim, pode me escrever. Se achar que minhas cartas do projeto “Correio Terapêutico” podem inspirar outras pessoas, partilhe-as, por favor.

Gentilmente,

Luciane Couto

PS: Uma frase de Nelson Mandela (cuja biografia, em livros – inclusive há um livro baseado em suas cartas, diários e outros registros, chamado “Conversas que tive comigo” - e filmes – como “Longo Caminho para a Liberdade” e“Invictus” - pode ser muito inspiradora): “devemos promover a coragem onde há medo, promover o acordo onde existe conflito e inspirar onde há desespero”. 

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Correio Terapêutico - segunda carta

Belo Horizonte, numa arejada manhã de maio de 2020.

Prezada(o),

Espero que esta carta te encontre bem.

A COVID-19, doença que  nos traz tantos desafios no momento, notadamente é  conhecida pelos danos causados ao sistema respiratório. Isso me fez querer refletir na carta de hoje sobre a importância  desse ato tão  vital e que, não raras vezes,  negligenciamos (mesmo quando não há a interferência de qualquer vírus): respirar.

Começo ressaltando que o sentido  envolvido com o ato de respirar, o olfato,  pode ter muita influência sobre nossa percepção do mundo.  Podemos ser muito impactados pelos cheiros e nossa história de vida muitas vezes é marcada pelos aromas. No meu caso: o aroma que vem da embalagem de “Leite de Rosas”  me faz lembrar  de minha bisavó,  mulher sábia e forte; leitora  voraz que sou, sempre noto o cheiro que os livros (novos ou velhos) podem ter; após  um dia exaustivo, assar um bolo em casa e sentir o ar doméstico impregnado de doçuras vindas do forno me traz um conforto instantâneo; ao abraçar meu filho ao longo do seu crescimento  fui sentindo  seu cheiro mudar ao longo  dos anos, começando  com sabonete de bebê,  passando  pelo  cheiro de tutti-frutti do chiclete  e da grama do jogo de futebol até a loção  pós-barba nos dias atuais... E quem viu o filme “Perfume de Mulher”, onde o personagem Frank, cego, identificava as pessoas, sobretudo as mulheres, pelo cheiro?  Há, inclusive, a aromaterapia, que é uma técnica que usa óleos essenciais para o cuidado físico e emocional. Enfim, olfato e emoções se interligam.

 

Respirar  é  nosso primeiro ato de resistência: vir ao mundo é  ter que respirar. Enquanto respiramos, vivemos. O ar é vital, repito. Mas estamos respirando bem? Humanos, animais e plantas  vivem de uma melhor forma se usufruem de ar com qualidade, sem poluição (um  dos efeitos positivos do confinamento atual, registrado  em várias partes do mundo, é  a diminuição dos índices  de poluição, a ponto de se conseguir avistar o Himalaia em regiões onde a cordilheira esteve encoberta por décadas pelo ar carregado de impurezas).  Belo  Horizonte já foi reconhecida pela qualidade  de seu ar e clima, atraindo, assim, pessoas que vinham passar temporadas em seus sanatórios para se tratarem da tuberculose. Isso ocorreu no início do século passado, antes de medicamentos mais eficazes para a doença chegarem ao Brasil por volta de 1950 (até então, as pessoas com tuberculose eram obrigadas a se afastarem das pessoas queridas, pois a tosse gerada pode propagar a doença, o que muito nos lembra do que tem ocorrido no nosso momento atual). Até para os objetos o ar é  importante: temos que por roupas para respirarem de quando em vez, arejar a casa faz parte da sua manutenção  adequada...

 

Como psicóloga,  vejo no ato de respirar uma importante  pista sobre a saúde emocional dos pacientes: angústia  pode trazer o aperto no peito, como se o ar não  fluísse; ansiedade pode não  deixar o ar entrar o suficientemente;  a cólera  pode acelerar  por demais a respiração... Não respirar adequadamente traz impactos em nosso físico, mas também em nossa saúde mental. 

 

Então, através  da carta de hoje quero te incentivar a colocar mais consciência sobre teu ato de respirar.  Sugiro   que, ao terminar a leitura, faça  algo simples:  concentre em tua respiração  por um ou dois minutos. Não  precisa tentar  controlá-la, apenas observar:  como o ar entra e sai? Qual a temperatura que sente no ar que puxa e no ar que solta? Tua  respiração  está  em que ritmo: devagar ou acelerada? Está superficial  ou mais profunda? 

 

Essa prática  simples  pode ser feita em qualquer momento em que se sinta a necessidade de fazer uma pausa para tentar relaxar e pode ser  o ponto  de partida para um exercício de atenção  plena, que vários estudos indicam como benéfico para a saúde emocional. Nas próximas cartas, trarei mais um pouco de sugestões de relaxamento através da consciência respiratória.

 

Se achar que tuas emoções  estejam interferindo negativa e rotineiramente  no teu ato de respirar, pode ser o caso de buscar ajuda profissional.  Já há relatos que pacientes  chegaram ao hospital suspeitando que estivessem com sintomas da COVID-19, mas, na verdade, estavam com crises de ansiedade. Penso que, na psicoterapia, muitas vezes  nós  psicólogos também  precisamos  usar técnicas intensivas para ajudar os pacientes  a respirarem melhor, e isso passa pelo trato das  emoções, aqui não com o uso de respiradores artificiais, mas através da empatia e escuta qualificada.

 

Espero  que minhas palavras de hoje tenham sido um respiro no teu cotidiano. Continuo aberta  para acolher quem desejar me escrever.

 

Gentilmente,  

Luciane Couto 

 

PS: trecho do poema “Inundar de Infância”, de Mia Couto:

“Dentro de mim

o universo se dissolveu

e um respirar de céu

em meu peito se inundou”. 

sexta-feira, 8 de maio de 2020

Correio Terapêutico

Outras instâncias tem recebido mais escritos meus que esse blog. Mas resolvi partilhar aqui as cartas que estou enviando a cada semana para os colegas de trabalho do local onde atuo como terapeuta.Chamei o projeto de "Correio Terapêutico" e é uma  das formas que encontrei para tentar levar alento e dicas para o bem-estar emocional durante a pandemia atual (também comecei a ofertar psicoterapia online). Partilharei as cartas para que o alento chegue a quem mais precisar...

Belo Horizonte, numa manhã de abril de 2020.


Caríssimo profissional da Secretaria Municipal de Segurança e Prevenção,

Aqui quem escreve é Luciane Couto, servidora pública na Prefeitura de Belo Horizonte e uma das psicólogas que atua na equipe da Diretoria de Saúde do Trabalhador (DSAT/SMSP). No atual cenário, onde uma pandemia traz tantos desafios e limitações, e estando o atendimento presencial na DSAT suspenso no momento, pensei numa forma de lidar melhor com essas questões e poder contribuir um pouco mais no nosso trabalho, ainda que à distância.

Desde o fim de minha infância, tenho uma afeição por cartas, tanto por escrevê-las como por lê-las. Por cartas, por exemplo, estabeleci relacionamentos que já perduram por décadas. Por cartas, ofertei e recebi alento, boas novas, conselhos, dicas, declarações de amor, desabafos, celebrações e tantas outras coisas que ajudaram a construir minha história e trajetórias. Também tenho um enorme interesse por livros que contenham coletâneas de cartas e por filmes onde as cartas se tornam personagens (um filme que já vi mais de uma vez e recomendo para quem gosta de cinema é “Nunca te vi, sempre te amei”. Já dou um spoiler: a tradução em português do título original do filme sugere uma história de amor romântico, mas o filme retrata a história real da amizade entre uma escritora que vivia no EUA com um livreiro do Reino Unido; uma forte amizade construída por meio de cartas) e nestes livros e filmes a capacidade de conexão e alento das cartas fica muito evidente.

Sendo assim, começo hoje um projeto que chamo de “Correio Terapêutico” (a palavra terapia vem do grego therapeia , que indica cuidar, o ato de curar ou restabelecer): a cada semana, escreverei uma carta na tentativa de contribuir com o seu bem-estar (e felizmente, com a internet, posso escrever uma carta e fazê-la chegar a muitas pessoas e de forma rápida. Não precisarei escrever à mão e esperar dias para que a carta chegue à mão do destinatário, como ocorria na minha infância. Mas acredita que ainda recebo cartas manuscritas nos dias de hoje e que eu as adoro?!).

Desde março passado, conversando com guardas municipais (por telefone, e-mail ou outros canais que nos possibilitam conversarmos à distância) percebi que estes não se queixaram em ter de trabalhar, mas relatam uma sensação de medo (sobretudo medo de serem contaminados pelo vírus Corona e contaminarem as pessoas com quem convivem). Como diz o escritor Mark Twain: “coragem é resistência ao medo, domínio do medo, e não a ausência do medo”. Ou seja, é importante reconhecermos o medo e outras emoções e sensações que nos mobilizam, todavia o mais importante é encontrarmos estratégias para lidarmos com o medo e tudo que possa nos angustiar, e espero contribuir nas minhas cartas com algumas destas estratégias.

A própria Organização Mundial de Saúde, tão citada atualmente, diz que saúde é “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções e enfermidades”. Portanto, temos que estar atentos ao nosso corpo, mas também às nossas emoções e relacionamentos para zelarmos por nossa saúde. Muito se tem falado das recomendações físicas para evitarmos o contágio pelo vírus (lavar ou desinfetar mãos, usar máscaras, distanciamento social, etc), mas quero ressaltar nas minhas cartas dicas para fortalecermos nossa imunidade emocional, o que, consequentemente, poderá contribuir com a nossa imunidade física. E friso a importância do autocuidado para sermos melhores para os outros e conseguirmos cuidar de quem estimamos. Cuidando de nós mesmos podemos cuidar melhor do mundo

Agora pergunto: o que você fez hoje para o seu próprio bem-estar? Como está o seu autocuidado?

Se considerar que me escrever para partilhar uma ideia, impressão ou mesmo um desabafo pode ajudar no seu bem-estar, por favor, faça-o!Responderei a todos que me escreverem e ressalto que o sigilo será mantido. Defendo o poder terapêutico das palavras e se, por hora, não posso ouvi-los no meu consultório, gostaria muito de ouvi-los por aqui.

Sintam-se abraçados por minhas palavras.

Gentilmente,

Luciane

PS: Trecho de uma carta de Clarice Lispector, datada de 1948: “para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos (...) cortei em mim a força que poderia fazer mal aos outros e a mim”.

quarta-feira, 17 de julho de 2019

No próximo  domingo, 21 de julho,  às  13 horas, estarei coordenando um Sarau Poético dentro da Programação da Virada Cultural de Belo Horizonte (no Parque Municipal/Espaço Bem Estar e Saúde).

Vamos (com)partilhar poesia? 

quarta-feira, 3 de julho de 2019

Minimalismo

Se quiserem ouvir um pouco mais sobre minimalismo, confiram  esse vídeo onde colaborei como convidada.


sexta-feira, 31 de maio de 2019

quarta-feira, 22 de maio de 2019

Bahia


Tive a oportunidade  de retornar à Salvador pela terceira vez, visitando lugares que ainda não conhecia, como o lindo Forte de Monte Serrat (retratado aqui) e seu entorno. O mar sempre tem um efeito relaxante  sobre mim: só de admirá-lo me contento, mas dessa vez também pude me banhar nele (na calma praia de Porto da Barra). Algo que não tinha planejado para essa viagem  foi ver Ivete Sangalo num trio elétrico, mas aconteceu, e sua energia é  mesno contagiante. Posso dizer que tive nessa viagem uma ótima dose de Axé!

quarta-feira, 15 de maio de 2019

Punhados de Amor no mundo

O evento de lançamento do meu livro foi recheado de afeto e alegria! Eis meu livrinho já  por aí,  trazendo mais poesia para o mundo!