sexta-feira, 29 de maio de 2020

Correio Terapêutico - quarta carta

Belo Horizonte, numa expressiva manhã de maio de 2020.

Prezada(o),

Como você tem estado?

Hoje começo falando de outra etapa da respiração: expirar. Lembro que nas últimas duas cartas, falei sobre a importância de respirarmos lenta e profundamente como um exercício para relaxamento. Gostaria de ressaltar agora como expirar de uma forma melhor: após inspirar o ar vagarosamente pelo nariz e levá-lo para o diafragma, buscar soltar o ar pela boca, gastando mais tempo ao soltar o ar do que gastou para inspirá-lo. Pode, ainda, imaginar que a cada expiração você vai colocando para fora, além do ar, também as tensões, as preocupações, os pesos no corpo... Enfim, ao focar também no expirar, terá mais um complemento para um exercício respiratório com mais consciência.

Dentro dessa linha do “expirar”, julgo ser importante também refletirmos sobre como nos expressamos, como colocamos “para fora” o que pensamos e sentimos. Já sabemos que, na psicoterapia, incentivamos pessoas a tomarem consciência de suas emoções e sentimentos e a expressá-los devidamente, dentro e fora do consultório. Não raramente, percebo que muitos dos que atendo reconhecem que não se expressam de forma saudável: por exemplo, uns guardam tudo para si, resultando em adoecimentos inclusive físicos (tais como úlceras gástricas agravadas pela ansiedade; alergias de pele sem causa física detectada por exames; dores de cabeça provocadas por nervosismo...), já outros se colocam de forma violenta, seja no falar ou no agir.

Um conceito que julgo importante para afinarmos a forma de nos expressar é o de “assertividade”, que significa saber se colocar para o outro de forma firme e direta, mas não de forma violenta ou omissa. Ser pacífico sem ser passivo. Para sermos mais assertivos, precisamos, dentre outras características, nos conhecermos melhor e termos mais autoconfiança para nos posicionarmos e sermos empáticos (colocarmo-nos “no lugar do outro”). Resumindo, ser assertivo é saber o que dizer e para quem dizer, no momento e local mais propícios e da forma mais adequada.. Há vários livros que tratam sobre assertividade, para quem quiser aprofundar no tema. E também se pode aprimorar num processo psicoterapêutico a capacidade de ser assertivo.

Por último, friso que também podemos usar técnicas artísticas para nos expressarmos. Já se conhece os efeitos terapêuticos de atividades como pintar, bordar, esculpir, cantar, dançar, escrever... A escrita tem sido minha forma artística preferida há tempos para me expressar (através da poesia, contos e crônicas, sobretudo) e me tem trazido muitas dádivas, novas amizades, outros trabalhos, amplos horizontes, além de auxiliar na minha sanidade mental.

Você usa alguma forma de arte para se expressar?

Espero que minhas palavras de hoje possam ter expressado, mais uma vez, meu desejo pelo seu bem-estar. Se tem se expressado através da arte e desejar compartilhar isto e outros assuntos comigo, pode me enviar uma mensagem.

Gentilmente,

Luciane Couto



PS: Partilho aqui um poema meu, feito nesta semana, chamado “Na Despedida” e que pode simbolizar o poder da escrita:

Antes do adeus premente
Já  tinha  um poema
No canto do olho
E logo teria o olhar
Todo marejado de poesia.

Dispensou o lenço
Oferecido após
O derradeiro abraço
E deixou os versos
Escorrerem livremente.

Um comentário:

  1. Lu, que bom falar de novo com você. Cheguei a achar que não atualizaria mais o seu blog (o meu mesmo anda a passos lentos...). Espero que continue por aqui nos presenteando com seus textos e fotos!

    ResponderExcluir

Oi, vou adorar que vocês também compartilhem comigos suas reflexões...