sexta-feira, 22 de maio de 2020

Correio Terapêutico - terceira carta

Belo Horizonte, numa inspirada manhã de maio de 2020.

Prezada(o),

Como tem estado? E como andam os ares por aí?

Na última carta, escrevi sobre a importância de colocarmos mais consciência em nossa respiração. Hoje gostaria de prosseguir no tema, focando no ato de “inspirar”. De forma concreta, uma sugestão de exercício respiratório voltado para um “inspirar” melhor é: sentar confortavelmente e voltar sua atenção para a própria respiração, desta vez puxando lentamente o ar pelo nariz e buscando enviar o ar não só para o pulmão, mas bem abaixo, para o abdômen (ou seja, sentindo o tórax aumentar de tamanho a cada puxada de ar e também a barriga se distendendo com o ar aspirado) e só depois soltar o ar. Assim, o ar chega ao diafragma, deixando a respiração mais profunda e, de fato, completa. Respirando algumas vezes como descrevi aqui, pode se obter uma sensação de relaxamento.

Agora pergunto: além do ar ao respirar, o que mais tem (te) inspirado? O que a vida te traz ou você busca que nutre seu bem-estar? Tem se inspirado através de livros, filmes, outras formas de arte, natureza, amizades, espiritualidade, mentores? Um dos primeiros livros que li e muito me inspirou foi “Fernão Capelo Gaivota”, de Richard Bach. Reli recentemente esse livro e a história sobre superação de limites continua me soando muito inspiradora.

O que colocamos para “dentro da nossa alma” é importante, pois alimenta nossas ideias e sentimentos. Selecionar, por exemplo, o conteúdo das nossas leituras, reportagens que assistimos e das conversas que sustentamos é recomendado, pois tais conteúdos podem nos fazer bem, mas também podem nos deixar mais ansiosos e tensos. Selecionar com quem nos abrimos e a quem solicitamos conselhos também é fundamental, pois tantas vezes a outra pessoa enfrenta seus dilemas e desafios e não tem condições de nos aconselhar de uma forma  colaborativa. O autoconhecimento (que pode ser aprimorado num processo psicoterapêutico) contribui para delimitarmos o que nos inspira ou o que pode estar contribuindo para o nosso adoecimento.

 E quem você tem inspirado? Muitas vezes, mesmo que não o percebamos, estamos inspirando quem nos cerca, seja um familiar, um amigo, um colega de trabalho... Uma vez, percebi isso graças a um amigo artista, quando fui, pela primeira vez, prestigiar um trabalho artístico dele. Após a apresentação, ele me chamou ao camarim, me abraçou e agradeceu, dizendo que foram conversas que tivemos há anos, quando trabalhamos juntos, uma das coisas que o incentivou a se manter no caminho artístico. Eu não me lembrava de tais conversas e, certamente, não as tive com a consciência do peso que elas teriam na vida do meu amigo. Porém, sou grata por esse retorno que meu amigo me ofertou, que me ajudou a refletir, a partir de então, muito mais sobre o que falo ou escrevo. Felizmente, meu amigo seguiu seu propósito de vida e, assim, ele presenteia a mim e a tantas outras pessoas com suas maravilhosas apresentações artísticas.

Ainda sobre inspirações, lembro com carinho da mãe de uma amiga da época de adolescência, que recebia a mim e a outros vários jovens em sua casa, servindo bolo de cenoura, indicando-nos filmes e livros e nos orientando sobre estratégias para lidarmos com várias angústias que vivíamos da puberdade. Quando me mudei de cidade e, várias vezes, pude viajar e me hospedar na casa de tal amiga, era recebida com tanto zelo por sua mãe que passei sempre a ter essa mulher como referência de como acolher bem. Há alguns anos, pude homenagear a mãe de minha amiga num outro texto, onde eu deixava claras as inspirações que dela recebi – texto que a mulher inspiradora pôde ler antes que falecesse (precocemente, vítima de um câncer).

Que tal dizermos hoje para alguém sobre algo que tal pessoa tenha nos inspirado?

E gostaria de compartilhar comigo suas inspirações? Se sim, pode me escrever. Se achar que minhas cartas do projeto “Correio Terapêutico” podem inspirar outras pessoas, partilhe-as, por favor.

Gentilmente,

Luciane Couto

PS: Uma frase de Nelson Mandela (cuja biografia, em livros – inclusive há um livro baseado em suas cartas, diários e outros registros, chamado “Conversas que tive comigo” - e filmes – como “Longo Caminho para a Liberdade” e“Invictus” - pode ser muito inspiradora): “devemos promover a coragem onde há medo, promover o acordo onde existe conflito e inspirar onde há desespero”. 

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